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Mulheres no campo: elas chegaram para ficar



Assim como na cidade, para uma mulher conquistar respeito pelo seu trabalho no campo é necessário muita determinação e foco para não desistir com as primeiras ofensas. São olhares duvidosos que vem dos pais, irmãos e até dos seus subordinados. Aquele pré-conceito que diz o tempo todo: “isso é serviço de homem”, “você não vai conseguir”, “é melhor ficar em casa cuidando dos filhos”, “desse jeito não vai arrumar marido”, e essa ladainha de negatividade muitas vezes não acaba mesmo depois do sucesso e comprovação de um trabalho bem feito. Ser mulher no campo é ser resistência, é assumir um papel que já se provou merecer! E por esse Brasil afora não nos faltam bons exemplos.


Em Campo Alegre (GO), Jaqueline Martins é uma dessas guerreiras que mesmo pegando pesado no trabalho ao lado do pai, irmão e tios, enfrenta ainda hoje os preconceitos de ser jovem, mulher e bonita no setor agrícola. Com apenas 22 anos, Jaqueline, que cursou faculdade de Administração, optou por ficar longe do ar condicionado para cultivar a terra, e foi aí que ela viu que o diploma não seria suficiente para convencer que ela podia cuidar da gestão da propriedade. Episódios como insubordinação de funcionários e discriminação até de revendedores passaram a fazer parte da sua rotina. Jaqueline não esquece os vários episódios em que foi ignorada por eles. “Estão sempre em busca do administrador da fazenda, de quem decide a compra e assina o cheque. Quando me veem passam reto, ou pergunta quem é o dono. Para maioria deles, uma mulher ali deve ser secretária, cozinheira ou só filha dos donos e não tem um papel nas decisões, até que chegam no meu pai, que os fazem dar meia volta e me procurar”, conta.


A jovem que não tem medo de trabalho conta que também já exerceu as funções ditas “femininas” da fazenda. Ajudou a mãe no refeitório, passou pelo escritório na cidade, mas é ali, no meio da lavoura que Jaqueline encontra sua verdadeira paixão profissional. Nem para cursar a faculdade, Jaqueline deixou de ajudar na fazenda. E os sonhos do pai e da filha passaram a se misturar: estabilidade, diversificar o negócio, ampliar a produção agrícola. Quando perguntada sobre o futuro Jaqueline afirma: “quero aumentar o que já conseguimos e administrar o que já temos com a mesma eficiência que o meu pai sempre teve”. “Quem olha a história dele, a nossa história, reconhece que ele é uma referência para todos os produtores do Projeto”, diz Jaqueline. E o pai, José Martins não esconde o orgulho que tem de ter a filha mais nova ao seu lado, pensando grande, planejando o futuro.


Foto: Ernesto de Souza

Ali perto, em Ipameri (GO), outra mulher faz história no agronegócio. Em 2006, quando a odontóloga Marize Porto assumiu a gestão da Fazenda Santa Brígida, não sabia dos desafios que a esperavam, mas logo ela descobriu que eram muitos. O primeiro deles foi a distância: ela morando em São Paulo e a propriedade situada em Ipameri. O segundo foi a falta de experiência; como profissional de saúde, havia muito o que se aprender sobre gestão de propriedade rural. E, por fim, não havia dinheiro e nem maquinário para tocar qualquer projeto, mas ainda assim Marize topou o desafio e virou o jogo no qual ela havia entrado com saldo negativo. “Eu tinha três filhos menores de idade, tinha acabado de perder meu marido, a fazenda tinha que no mínimo se autossustentar. Se outras pessoas fazem isso e vivem disso, por que eu não vou conseguir e fazer também?”, conta.


Eram mais de 2 mil hectares de pastos degradados e infestados de cupins. A primeira medida foi realizar um levantamento de quanto custaria a recuperação dessa área, e foi na ponta do lápis que Marize concluiu que, do modo convencional, o custo não caberia no orçamento. “Era uma coisa cara e com retorno a longo prazo, não tínhamos tempo e nem dinheiro. Então foi quando resolvemos procurar a Embrapa em busca de uma solução, foi quando conhecemos os pesquisadores Romero Aidar e João K, que nos apresentaram uma tecnologia pronta: o ILPF”, relembra.


A produtora lembra que na época a proposta do projeto era de que a agricultura pagaria todos os custos da produção e de que a nova pastagem sairia de graça. “De repente o que era bastante caro, que era a recuperação das pastagens, estava saindo de graça. Meu primeiro pensamento foi: se esse projeto é tão fantástico assim, por que ninguém faz? Qual o problema? A resposta me surpreendeu: ‘falta conhecimento da tecnologia aos produtores’. Decidi não hesitar mais e apostei na novidade”. Marize conta que, no início, ela não tinha máquinas, não tinha força de trabalho, não tinha conhecimento nem dinheiro, e, para desenvolver o projeto sugerido pela Embrapa, chamou um vizinho para ajudá-la. Como moeda de troca, ela arrendou parte da fazenda para ele, que logo cuidou do preparo do solo, plantou e colheu. “Nesse primeiro plantio eu só comprei os insumos, e meu vizinho cuidou de todo o resto. Ao final da colheita eu paguei as contas e o que a Embrapa havia me prometido foi cumprido, o pasto estava lá, exatamente como me foi garantido. Pastagem de primeiro ano e de graça, porque a agricultura pagou todo o custo”, afirma.


A partir daí o sucesso do projeto ILPF na Fazenda Santa Brígida não parou mais e a agropecuarista passou a ser referência no sistema para todo o país. Marize recebe anualmente centenas de pessoas em sua fazenda para um dia de campo que apresenta as novidades do ILPF e contou que este ano deve deixar a odontologia definitivamente para se dedicar exclusivamente ao seu negócio no campo.




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