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Mudanças climáticas vão impactar a agricultura no Brasil cada vez mais e irrigação é garantia para a


Secas e chuvas excessivas. Calor e frio severos. As mudanças climáticas estão se intensificando e são irreversíveis, apontam estudos. Em Goiás, a sensação é de que, a cada ano, os dias estão mais quentes, não é mesmo? Mas não é só sensação não, afirmam especialistas. 2016 foi o ano mais quente da história desde o início dos registros globais, no século XIX. A informação é da Organização Meteorológica Mundial (OMM) e três das principais agências de monitoramento do clima do mundo – a Nasa e a Noaa, dos EUA, e o Met Office, do Reino Unido. A temperatura média da superfície terrestre e dos oceanos, combinada, foi 1,1°C superior à média pré-industrial, segundo a OMM.


Para Carlos Rittl, secretário-executivo do Observatório do Clima, os dados anunciados pela OMM não eram inesperados, mas mesmo assim chocaram. “Eles marcam o que pode ser uma nova fase de aceleração do aquecimento global, ao mesmo tempo em que o segundo maior emissor do planeta (EUA) ameaça reverter sua determinação rumo à implementação do Acordo de Paris. A atmosfera infelizmente não está nem aí para as nossas dificuldades políticas ou para se nós acreditamos ou não no aquecimento global; ela simplesmente esquenta”, avalia.


O aumento do aquecimento do planeta traz alertas severos a toda população. Segundo dados do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas, o Brasil poderá perder cerca de 11 milhões de hectares de terras agriculturáveis por causa das alterações climáticas até 2030. De acordo com o relatório da FAO (Organização da ONU para o Combate à Fome no Mundo), no fim do século 21 haverá uma redução de 22% das chuvas no Nordeste brasileiro, impactando profundamente na produção de alimentos. Um problema que refletirá em todos, sem exceção.


“E agora, José?”

Em 2016, durante a COP22 - 22ª Conferência do Climas das Nações Unidas - o Greenpeace lançou o relatório E agora, José? – O Brasil em tempos de mudanças climáticas, que analisou 46 estudos publicados entre 2008 e 2016. O relatório aponta que as mudanças climáticas poderão impactar a produção agrícola do Brasil, mexer com nossa economia e aumentar a conta de luz.


Pedro Telles, coordenador de clima e tempo do Greenpeace

Um dos fatores mais relevantes para a grande perda no PIB são os impactos previstos para a agropecuária. Mudanças nos padrões das chuvas e a diminuição de áreas de baixo risco para o plantio podem trazer grandes prejuízos para a produtividade no campo. Em um cenário de aquecimento de pelo menos 1,4 ºC, as perdas podem chegar a R$ 3,6 trilhões em 2050. “Já estamos vivendo em mundo que está ultrapassando de um grau de aquecimento médio, isso está afetando as colheitas e a previsão é que vai afetar muito mais”, afirma Pedro Teles, coordenador de Clima e Energia do Greenpeace.


Para ele, os produtores devem enfrentar dois grandes gargalos: o primeiro é o aumento da temperatura, que tornará áreas inapropriadas para determinadas culturas e o outro gargalo é o volume de chuva. “Essas duas coisas impactam os produtores. Em alguns casos vai ficar quente demais para produzir determinadas culturas, e será preciso migrar a cultura para outro lugar, nesse caso, se o produtor não tem condições de migrar a produção para outra região, que é o caso de muitos, ele pode ter que abandonar a agricultura, ou recorrer ao sistema de irrigação”, destaca Teles. A segunda opção esbarra novamente no limite outorgas de uso de água para irrigação.


O coordenador do Greenpeace norteia também um terceiro caminho possível: seleção de espécies, com a produção de sementes adaptadas às condições de clima. “Essa é uma esperança para garantir a produção, mas todos esses caminhos são onerosos, e o nosso relatório aponta para essa perspectiva de crescimento bem significativo no preço dos alimentos”, diz.


O relatório mostra, ainda, que o tema das mudanças climáticas não se resume a um debate entre diplomatas, cientistas e ambientalistas que se reúnem em conferências da ONU. “O desafio climático é um desafio estrutural da nossa economia, você vê emissões de vários lugares diferentes, todo o modelo de produção e consumo precisa ser repensado. Essa é uma questão presente no dia a dia das pessoas e pode trazer fortes impactos negativos, afetando a conta de luz no final do mês e influenciando no preço dos alimentos. Os prejuízos de um planeta mais quente serão caros”, alerta Pedro.


Teles afirma que garantir a eficiência na produção será o grande desafio do produtor rural. “No Brasil ainda temos uma baixa eficiência na agropecuária e práticas de vários processos inadequados. É preciso investir nessa área para tornar o processo mais eficiente”. Para ele, técnicas de irrigação serão essenciais nesse processo. “A Irrigação tem duas finalidades: adaptar o clima que já mudou e garantir uma produção mais eficiente, e por ser mais eficiente você emite menos gases que provocam o efeito estufa”, afirma.


Pluviosidade

Derblai Casaroli, professor de agrometeorologia e hidrologia da Universidade Federal de Goiás (UFG)

A reportagem da Revista Irrigo também conversou com o professor de agrometeorologia e hidrologia da Universidade Federal de Goiás (UFG), Derblai Casaroli, sobre a diminuição do volume de chuvas no Estado. Segundo ele, mesmo não havendo comprovação que estabeleça um padrão de aumento ou de reduções nos volumes de chuvas no estado de Goiás, em função dos Fenômenos ENOS – Oscilação Sul, a análise dos dados da Estação Meteorológica da EA-UFG demonstrou que em anos de El Niño Forte houve uma redução no índice pluviométrico anual, principalmente para nos meses de outubro, novembro e dezembro. “Outro fenômeno climático, que também influencia nas chuvas, e é característico do Cerrado brasileiro, são os veranicos - períodos secos dentro de uma estação chuvosa, os quais podem ocasionar sérios prejuízos aos produtores rurais”, afirma. O tempo médio de duração deste fenômeno no Estado de Goiás está entre 5 a 10 dias, com maior probabilidade de ocorrência nos meses de janeiro e fevereiro.


Dentro da Meteorologia Agrícola existe uma técnica denomina Zoneamento Agroclimático, a qual, de acordo com as exigências climáticas de uma determinada cultura, é possível indicar áreas aptas, pouco aptas e inaptas para seu cultivo. “Para o Estado de Goiás, tendo em vista as mudanças citadas nas variáveis meteorológicas (temperatura e chuva), há uma grande probabilidade de redução, por exemplo, na área plantada de soja, que por hora, a previsão é de longo prazo”, alerta Derblai. O professor destaca que já existem pesquisas na área de melhoramento de plantas que selecionam variedades de soja mais adaptadas as mudanças climáticas. “Além disto, as mudanças climáticas poderão ter efeitos também sobre as pragas, doenças e plantas daninhas da lavoura, em que, algumas destas possuem melhor adaptação ao ambiente, podendo suprimir as culturas agrícolas”, afirma.


Quando questionado sobre como o produtor rural pode se preparar para evitar perdas decorrentes das ações climáticas, Casaroli pede cautela. “De fato estamos observando um aumento gradual das temperaturas nas últimas décadas”, afirma. Segundo o professor, em nível de município, podemos observar que a ausência de vegetação e aumento da urbanização podem ser os agentes condicionantes das mudanças no clima, favorecendo a formação de ilhas de calor, que pode ocasionar um aumento das temperaturas médias e de chuvas convectivas (alta intensidade e curta duração). “Isto também pode se refletir em áreas rurais, pois a soma de várias ilhas de calor mais os desmatamentos, as queimadas e a emissão de gases de efeito estufa, promovem modificações em nível regional e global”, afirma.


As chuvas sumiram mesmo?

Casaroli explica que uma das relações entre a temperatura do ar (energia) e as chuvas, seria que o aumento da temperatura favoreceria o incremento da evaporação da água da superfície do solo, proporcionando a elevação de ar quente e úmido na atmosfera, podendo incorrer na formação de chuvas convectivas locais, é claro, dependendo das condições atmosféricas atuais (i.e. temperaturas em altitudes acima da superfície do solo). Por outro lado, o ciclo hidrológico (evaporação/transpiração, formação de nuvens, precipitações e infiltração da água no solo) se completa quando as condições locais são favoráveis, sobretudo em termos de vegetação, energia e umidade no ambiente (ar e solo), caso contrário, poderão ser observadas algumas alterações, como a migração de chuvas para outros locais que forneçam condições ambientais aptas para o ciclo se completar. Talvez isto esteja acontecendo em determinadas regiões, em que, a população vem relatando que “as chuvas sumiram”. “É importante termos a consciência que hoje, estamos passando por um momento delicado e de mudanças, as quais estão acontecendo rapidamente, e a recomendação é economizar água e aumentar a eficiência de seu uso”, conclui Derblai.



Assessoria de Comunicação Irrigo Thalita Braga (61) 99672-8157 | imprensa@irrigoias.com.br



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